O alcoolismo e a possível depressão de Lula

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O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central. Assim que a pessoa começa o seu uso, tem um estado de euforia e, com mais consumo, ou mesmo com seu efeito no organismo, começa a ter as dificuldade de falar, caminhar e pensar; alguns chegam a ter a amnésia alcoólica (não se lembrar do que falou, do que fez etc.).

Um grupo de cientistas da Universidade de Sussex, na Inglaterra, revelou que o álcool facilita a criação de memórias para eventos emocionais – na maior parte positivos – vividos antes da intoxicação, e prejudica a criação de memórias para eventos emocionais – muitas vezes negativos – ocorridos depois do consumo abusivo de bebidas.

A maioria das pessoas acha que um alcoólatra é aquele que bebe e cai pelas calçadas, que dá escândalo, mas não são somente estes. Aqueles que bebem rotineiramente, pouco ou muito, têm uma compulsão pelo álcool.

E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está nessa lista. Muitos vídeos que correm no YouTube o mostram o fazendo uso de álcool. E, maldosamente, muitas piadas são criadas em cima do tema.

No dia em que o ex-presidente se entregou à prisão, decretada pelo juiz federal Sérgio Moro, ele saiu de seu refúgio, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, SP, para participar de uma manifestação.

Depois da missa em lembrança de sua segunda esposa, Marisa Letícia, várias pessoas discursaram, e então Lula também falou, supostamente sob efeito de bebida, segundo comentário feito pela senadora Gleise Hoffmann (captado por vídeos amadores – assista, abaixo), atual presidente do mesmo partido de Lula, o PT.

No discurso, Lula realmente diz coisas sem nexo, sobre o processo do “meu apartamento” (no Guarujá, que claramente alega não ser dele) e sobre “imagina um cara sendo acusado de suicídio e não tenha sido ele o assassino; e o que a família do morto quer? que ele seja morto…”. Em certo momento da sua fala, a também ex-presidente Dilma Rousseff conversa com Gleisi; a senadora então cheira o pescoço de Lula e afirma: “é cachaça”.

Mesmo que ele não estivesse sob efeito do álcool, o fato é que o uso e abuso de álcool pelo ex-presidente é notório e começou cedo.

Morando na Vila Carioca, ele consegue entrar para o Senai, “no melhor período da sua infância”, e toma o primeiro “fogo” da vida, um porre de vinho e cerveja…

Numa festa, Lula tomou três conhaques, criou coragem e fez a proposta de namoro para sua primeira esposa.

Quem começa muito cedo a beber vai desenvolver mais rapidamente a dependência, conhecida como alcoolismo.

Na atual circunstância em que ele ficará (no cárcere da Polícia Federal), não terá acesso a bebida alcoólica, em tese. O Estado fornece três refeições por dia para os presos, mas nada além disso: antes que o ex-presidente viajasse a Curitiba, seus advogados tiveram que comprar lençóis, fronhas, toalhas, sabonetes, cobertor e travesseiros. A Polícia Federal não fornece nada aos presos.

Na preparação para o embargue a Curitiba, na hora de fazer a mala, familiares do ex-presidente questionavam se poderiam colocar chocolates na bagagem (é um bom recurso para conter a fissura pelo álcool: usar doces). Na pressa, eles esqueceram de colocar o aparelho para apneia (falha na respiração), aparelho que Lula usa quando dorme.

Dois (dos múltiplos) advogados do ex-presidente, Cristiano Zanin e Sigmaringa Seixas, puderam ficar com ele por algumas horas na noite em que o petista chegou à prisão. Depois de esvaziar a mala e colocar as coisas dele no armário, ajudaram Lula a fazer a cama.

Amigos de Lula temem que ele entre em depressão na prisão. Segundo eles, porque Lula esteve sempre cercado de gente.

Além dessa depressão, podemos supor que o ex-presidente vai sofrer a crise de abstinência do álcool, que é mesmo como uma depressão profunda. Condenado a doze anos e um mês, sem bebida os sintomas podem ser desde moderados até muito graves, com grande risco de levar o paciente a óbito, e costumam começar logo quando a pessoa desperta, de manhã. Isso ocorre quando a concentração de álcool no sangue diminui – para quem estava habituado a beber todo dia, e bastante por dia.

Os principais sintomas da falta de álcool no organismo, desenvolvidos por uma pessoa com síndrome de abstinência alcoólica, são: ansiedade, depressão, falta de clareza de raciocínio, irritabilidade e nervosismo, fadiga, oscilações de humor, pesadelos, dor de cabeça, insônia, sudorese, tremores, febre, convulsão, hipertensão, até ataques de pânico e alucinações.

Pelo tamanho da “lista de ameaças”, continuemos orando pelo ex-presidente. Ele vai precisar de muita ajuda da medicina e da espiritualidade, para vencer uma possível depressão e também para refletir sobre a vida – que não se limita a este plano material em que agora nos debatemos.

ARNALDO DIVO RODRIGUES DE CAMARGO é bacharel em direito e especialista em dependência química pelo GREA/USP.