Alimentos que mudam a vida

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Rob e Diane Perez são os donos do Saul Good Restaurant & Pub localizado na cidade de Lexington nos EUA.

Em dez anos de atividade, eles perderam 13 funcionários.

— Eles não foram demitidos. Eles morreram — explica Rob.

Morreram de overdose, sendo que metade dos casos estava relacionada a opioides – substância que atua no sistema nervoso produzindo ações analgésicas.

Há cinco anos, por exemplo, eles encontraram uma colher e um pote de cerâmica num lixo de seu estabelecimento e perceberam que seu melhor garçom estava usando heroína. A primeira gerente a integrar o quadro de funcionários do restaurante morreu na cadeia após tentar obter comprimidos prescritos ilegalmente. Mas somente no ano passado, quando o casal recebeu o aviso, por telefone, que um cozinheiro não iria trabalhar por ter morrido ao sofrer overdose de uma substância narcótica, é que Rob e Diane atentaram para a gravidade da situação.

Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA, cerca de 115 americanos morrem todos os dias por overdose de opioides. O Kentucky, estado onde se localiza Lexington, uma cidade charmosa, coberta de pastos e conhecida mundialmente por suas fazendas de cavalo, é um dos estados mais afetados: em 2016 foram 24 mortes por 100 mil habitantes relacionadas ao uso dessas drogas — quase o dobro da média nacional, de acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas.

Foi então que o casal abriu o DV8 Kitchen, um restaurante focado na recuperação, usando o ambiente do estabelecimento como uma ferramenta para a reabilitação dos viciados não apenas em opioides mas em outras substâncias também.

Rob, que começou nesse ramo de negócio aos 19 anos, afirma que os restaurantes tem um grande potencial para ajudar pessoas a se recuperarem do vício. No entanto, muitos estabelecimentos oferecem bebidas gratuitas, e garçons ganham gorjetas em dinheiro, um meio comum para transações que envolvem drogas.

— Temos atendimento ao cliente, gastronomia e a parte financeira. Nós podemos ensinar tudo isso — explica Rob que também lutou, por uma década, contra a dependência alcoólica e está livre do vício desde 1990. Para ele, a culinária, em particular, é um tipo de “terapia”.

Um de seus quatro restaurantes, na DV8 Kitchen, que foi inaugurado com 300 mil dólares arrecadados de pessoas da região que acreditavam na causa, o funcionário recebe pouco mais de 12 dólares a hora, quantia que, segundo eles, está 20% acima do valor pago em muitos estabelecimentos de fast-food. E os padrões são rigorosos. Além de não dispor de um bar, o estabelecimento tem uma política de tolerância-zero com atrasos. As gorjetas são agrupadas e incluídas no contracheque. Dinheiro em espécie, portanto, não entra em jogo.

Localizado em um Shopping Center a poucos metros dos maiores centros de reabilitação da cidade, o DV8 Kitchen usa o slogan Life changing food (alimentos que mudam a vida). Seu ambiente tem muitas plantas, as paredes e as mesas são enfeitadas com grafites coloridos de artistas locais, e uma cozinha aberta permite que os clientes vejam os funcionários enquanto eles preparam os pratos simples do cardápio — sanduíches, saladas, ovos, assados — criado justamente para poder ensinar as habilidades culinárias amplamente aplicáveis e úteis à reabilitação.

 

Fonte: O Globo