Um vício, diferentes manifestações

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Catalogado na 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) o vício em sexo, como é conhecido popularmente, é denominado como impulso sexual excessivo, um distúrbio progressivo caracterizado por pensamentos e atos sexuais compulsivos. Como todos os vícios, seu impacto negativo sobre o adicto e em membros da família aumenta à medida que a doença progride. Ao longo do tempo, o doente tende geralmente a intensificar o comportamento viciante para alcançar os mesmos resultados.

Para alguns viciados em sexo, tal comportamento não progride além da masturbação compulsiva ou a utilização extensiva de pornografia. Para outros, o vício pode envolver atividades ilegais, como exibicionismo, voyeurismo, telefonemas obscenos, abuso sexual infantil ou estupro.

Dependentes sexuais não necessariamente se tornam criminosos sexuais. Além disso, nem todos os criminosos sexuais são viciados em sexo. Para muitos, este é um problema tão grave que a prisão é a única maneira de garantir a segurança da sociedade contra eles.

Agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente que, pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a compulsão por sexo é um distúrbio de saúde mental. Também conhecido como conduta sexual compulsiva, o problema faz a pessoa falhar em controlar suas necessidades sexuais, negligenciando sua saúde.

Segundo o médico Marco Scanavino, coordenador do Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, desde 2013 muitos estudos em fisiopatologia, neurociência, aspectos neurobiológicos e outras áreas contribuíram para diagnosticar a condição como um distúrbio mental.

Para ele, a inclusão da doença na classificação da OMS foi um avanço, pois é um documento respeitado pelos profissionais, o que permite a maior atenção em conhecer, identificar e tratar o transtorno.

Scanavino explica que o tratamento consiste em medicamentos antidepressivos inibidores de serotonina porque, de acordo com o médico, cerca de 70% dos pacientes viciados em sexo também apresentam ansiedade e depressão, sendo ambos os quadros tratados. Porém, para que a resposta das pessoas seja melhor, a psicoterapia precisa estar envolvida no tratamento, afirma. O médico garante que o tratamento tem resultados positivos e conta que, nos últimos anos, a procura por ajuda se intensificou, com chances de aumentar ainda mais depois da inclusão pela OMS.

Os pacientes que apresentam vício em sexo podem ter diferentes manifestações: o comportamento solitário, que apresenta maior consumo de pornografia e atividade masturbatória; e aquele com foco em busca por parceiros, com maior risco de exposição a Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), explica o especialista. Scanavino ainda ressalta que o comportamento sexual compulsivo pode prejudicar o cotidiano das pessoas, além de poder estar relacionado ao abuso sexual na infância e vida adulta e às DSTs, algo importante em termos de saúde pública.

Há períodos da vida sexual das pessoas que flutuam, e o desejo sexual pode ser mais forte em um ponto ou outro, mesmo na fronteira com a imprudência, mas quando o sexo se torna algo vergonhoso e inibe a vida diária ou a felicidade pessoal, é sinal que a pessoa precisa considerar procurar ajuda – e, neste caso, uma boa alternativa é se informar no site Compulsão Sexual do AISEP – Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual ligado ao Programa do Centro de Reabilitação do Hospital Dia (CRHD) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

 

Fonte: Jornal da USP