Drogas em tempos de AIDS

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Desde o final dos anos 80 o dia 1° de dezembro ficou internacionalmente definido como o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Também sob responsabilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), este é um dos 8 dias mundiais relacionados com a saúde celebrado internacionalmente (os outros são Dia Mundial da Saúde, Dia Mundial do Doador de Órgãos, Dia Mundial da Imunização, Dia Mundial da Tuberculose, Dia Mundial da Malária e Dia Mundial contra Hepatite e o nosso bem conhecido Dia Mundial sem Tabaco).

A AIDS (síndrome de imunodeficiência adquirida) é uma doença infecto-contagiosa transmitida pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana). Foi primeiramente identificada nos Estados Unidos em 1981 e desde então vem se alastrando na forma de epidemia pelo mundo todo. As principais vias de transmissão do vírus são:

  •  relacionamentos sexuais sem uso de preservativos;
  •  seringas contaminadas, no consumo de drogas injetáveis;
  •  pela amamentação quando a mãe está infectada.

Muitas pessoas, a partir do contato com o vírus, desenvolvem anticorpos detectáveis em testes sanguíneos (anti-HIV), a partir de aproximadamente 9 semanas depois que a pessoa entrou em contato com o vírus.

Quando o teste detecta os anticorpos para o vírus, a pessoa é considerada soropositivo. As pessoas soropositivas podem não apresentar sintomas de infecção e permanecer muitos anos sem desenvolver a doença. No entanto, são portadoras do vírus e por isso devem tomar medidas de precaução, tanto para não transmitirem a doença a outras pessoas quanto para se protegerem de serem novamente infectadas. Nesse sentido, como não se sabe quem é portador do vírus, sempre deve ser usado preservativo em todos os relacionamentos sexuais.

O uso de drogas é considerado um comportamento de alto risco para a infecção pelo HIV. Os usuários de drogas injetáveis podem se infectar quando usam a mesma seringa com outros. Mesmo as pessoas que não se injetam drogas, mas as consomem de outra maneira podem se infectar por meio de relações sexuais sem preservativos. Diversos estudos têm mostrado que as pessoas sob efeito do álcool frequentemente se envolvem em relacionamentos sexuais sem proteção.

Drogas e álcool em excesso costumam prejudicar a saúde de qualquer pessoa. Para quem tem o sistema imunológico debilitado por causa do HIV, o dano pode ser ainda maior. Sem falar que para seguir um tratamento tão complexo como o contra a AIDS é preciso ter muita força de vontade e disciplina. Será possível lutar contra o HIV quando se tem a vida em desordem por causa de um vício?

Os profissionais de saúde que trabalham em programas de redução de danos em hospitais e Organizações Não Governamentais (ONGs) acreditam que sim. A ideia desses programas é tentar reduzir os danos provocados pelas drogas e o álcool e iniciar o tratamento contra a AIDS, ainda que as condições não sejam as ideais. O objetivo é garantir a melhoria da qualidade de vida da pessoa soropositiva, mesmo que ela não consiga, naquele momento, se livrar das drogas.

A unidade de controle e prevenção do programa de DST/AIDS de Santos – SP, trabalha desde o começo da epidemia de AIDS, nos anos 80, com a ideia do contrato possível. Quando o usuário consome um volume muito grande de drogas injetáveis, a primeira coisa a fazer é tentar conscientizá-lo sobre a importância de não compartilhar a seringa com outras pessoas para diminuir o risco de ele se contaminar com doenças como a hepatite, por exemplo, o que pode piorar seu estado de saúde. Para isso, lhe é oferecido um kit contendo seringa, água destilada, um recipiente para preparar a droga e lenço para desinfetar. Também é feito um trabalho de sensibilização para que ele não descarte esse material em um local que possa oferecer riscos para outras pessoas. Com os viciados em crack, forma de uso da cocaína que causa um prejuízo muito grande ao sistema nervoso, tem sido negociada uma redução da quantidade de droga e da frequência de uso.

Já no Centro de Referência e Treinamento em HIV/AIDS de São Paulo – SP, o esquema de medicamentos indicado pelo médico deve estar de acordo com a possibilidade que esse paciente usuário de drogas tem em cumprir regras, pois tratamentos muito complexos geralmente não são bem sucedidos. Porém, mais importante que o esquema de medicamentos escolhido é a história de vida de cada um. Para os psicólogos que trabalham no local, a estrutura pessoal é determinante para a aceitação do fato de ser portador do HIV e para a adesão ao tratamento anti-AIDS.

Para os infectologistas, não há problema de interação entre álcool, drogas e medicamentos antirretrovirais. Segundo eles, o que acontece é a soma da toxidade do álcool e da droga com a toxidade dos medicamentos. A pessoa pode, por exemplo, ter mais problemas como enjoo e diarreia. Por isso, o conselho mais comum neste caso é ter atenção ao período de jejum que alguns medicamentos exigem. Durante esse período, o álcool deve ser evitado.

No Brasil, são poucos os centros de convivência em hospitais ou em ONGs que oferecem tratamento ao portador do HIV usuário de drogas ou álcool sem apelar para o discurso da repressão e sem exigir a abstinência como condição para que ele se trate. No entanto, são os locais que se abrem para acolher o dependente químico que conseguem os melhores níveis de adesão ao tratamento. Muitos passam o dia no hospital para comer, dormir, conversar ou cuidar da higiene. Um dia, um deles se interessa em ver um vídeo ou participar de uma oficina. E assim vão sendo dados os passos em direção a uma vida longe da dependência.

Quem trabalha com redução de danos sabe que deixar as drogas ou o álcool é um processo doloroso, muitas vezes provisório, e que as recaídas são comuns.

 

Fonte: Saber Viver

 

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