Vício em jogos danifica o cérebro

Tempo de leitura: 4 minutos

Conforme já havíamos divulgado aqui, Organização Mundial de Saúde incluiu, enfim, a obsessão por videogames como um dos problemas de saúde mental que constam na 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID).

De acordo com a mais recente revisão do manual de classificação de doenças da entidade, a compulsão por jogos eletrônicos está definida como um “padrão de comportamento persistente ou recorrente” podendo se tornar tão intenso que “toma a preferência sobre outros interesses da vida”.

Para a OMS, a classificação de “gaming disorders” poderá ajudar os governos, pais e autoridades de saúde a identificar os riscos. Em alguns países a condição já era considerada um problema. Muitos, incluindo o Reino Unido, têm clínicas autorizadas a tratar crianças e jovens que costumavam passar a noite inteira jogando – um dos principais sinais do vício. Mark Griffiths, pesquisador da Universidade Nottingham Trent, que estuda há 30 anos a obsessão por vídeogames, acredita que a nova classificação deva ajudar a legitimar o problema e reforçar as estratégias de tratamento.

Porém, enquanto a agência de saúde da ONU afirma que os casos de problema de compulsão atingem menos de 3% dos gamers, para Griffiths a porcentagem seria de menos de 1%.

Este é um dos motivos pelo qual muitos profissionais da área acreditam que a OMS está se precipitando. Para Andy Przybylski, professor associado e diretor de pesquisa do Oxford Internet Institute, as “correlações são extremamente pequenas”.

E como os estudos a respeito não são conclusivos, Pete Etchells, professor de psicologia e ciência da Universidade de Bath, aponta que a correlação não está  necessariamente errada, mas é prematura.

É importante ressaltar que, neste caso, a discussão é sobre classificar o hábito como doença, e não se há um tempo limite para passar nas telas. Para o médico Max Davie, do Royal College of Paediatrics, essa é uma questão familiar, e cabe aos pais educarem os filhos a controlarem o seu tempo de tela e praticarem outras atividades.

Na Coreia do Sul, por exemplo, desde 2011 ficou estipulado um toque de recolher nos jogos online para menores de 16 anos entre a meia-noite e às 6 da manhã. Entretanto, a prática não funcionou e a maioria dos jovens pesquisados diz que continua sem dormir de madrugada, só que fazendo outras coisas. Ou seja, não eram os games que os mantinham acordados.

A dependência em games, assim como em outras atividades, tem uma explicação: uma reação bioquímica dentro do nosso cérebro que libera um neurotransmissor chamado dopamina, dando uma sensação de prazer, euforia, recompensa. Quem se vicia, não consegue viver sem essa descarga de dopamina. Sempre quer mais e joga mais.

De acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual da Califórnia, nos Estados Unidos, o sistema de recompensa do cérebro é ativado imediatamente quando o indivíduo vê um videogame ou celular. Segundo Ofir Turel, que liderou o estudo, essa ativação é muito mais forte do que em pessoas que não têm vício em jogos e mídias sociais e podem ter efeito similar ao abuso de drogas ou alcoolismo no cérebro infantil.

A maior preocupação é que a alteração do sistema de recompensa cerebral pode tornar as crianças mais suscetíveis a outros vícios nos futuro. De acordo com a pesquisa, existe uma associação significativa entre usuários de videogame de 13 a 15 anos e uma maior probabilidade do abuso de cerca de quinze substâncias ilícitas, como cocaína e metanfetamina. Esse risco está associado ao fato de que apesar de ter um sistema de recompensa mais desenvolvido, o de autocontrole ainda está em formação.

Para os especialistas, entre os principais indícios do vício em games estão:

  • Não ter controle da duração com que joga videogame;
  • Priorizar o jogo a outras atividades sociais e
  • Continuar ou aumentar a frequência com que joga, mesmo após ter tido consequências negativas desse hábito, como mal desempenho na escola.

Com relação às consequências do excesso, destacam-se:

  • Postura inadequada, principalmente porque as crianças estão em desenvolvimento;
  • Problemas de audição, já que muitos jogam com fones de ouvido no volume muito alto e
  • Síndrome do olho seco: a frequência de luminosidade prejudica os olhos, e a exposição excessiva pode desenvolver essa síndrome. Os olhos ficam irritados parecendo conjuntivite.

 

Fonte: Bem Estar/G1