“Uma besteira maluca”

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Enquanto por aqui a Anvisa trava uma batalha para impedir a venda de cigarros com sabores, na França a moda é balas, refrigerantes, sorvetes e iogurtes para crianças que imitam sabores de bebidas e coquetéis alcoólicos.

Obviamente, os especialistas em vício se preocupam sobre o impacto que esses produtos podem ter na vida das crianças.

Célebres coquetéis alcoólicos como mojito, margarita, pina colada ou spritz podem ser encontrados como sabores de diversos produtos alimentícios. E não é só isso: até mesmo produtos de higiene seguem esta tendência em xampus, sabonetes, cremes e óleos para o corpo.

O psiquiatra e especialista em dependência química do hospital Paul Brousse, em Villejuif (França), dr. Amine Benyamina, considera esta campanha algo “execrável” pois o marketing dos sabores de coquetéis induz sim aos mais jovens a consumirem bebidas alcoólicas. “A indústria joga com a ambigüidade ao se dirigirem aos adultos, mas ainda é doce. Esses métodos não são inócuos nem ingênuos”, afirma ele, que também é presidente da Federação Francesa de Dependência Química.

Na França, um dos maiores produtores de vinho do mundo, o consumo de bebidas alcoólicas está relacionado a 50 mil mortes por ano. Ainda assim, o país reluta em adotar políticas públicas contra o alcoolismo. O próprio presidente francês, Emmanuel Macron, declarou recentemente que consome duas taças de vinho por dia e que isso traz benefícios a sua saúde.

Por ano, são gastos na França 450 milhões de Euros em publicidade e marketing de bebidas alcoólicas. Esse valor é 100 vezes mais do que as campanhas de prevenção. Ironicamente, a Direção Geral de Saúde da França exige que os doces com sabor de drinks exibam  em suas embalagens a seguinte mensagem: “o abuso de álcool é perigoso para a saúde”.

Além disso, a lei francesa não proíbe a venda de produtos para crianças com sabor de drinks, porque, mesmo que façam referência a bebidas alcoólicas, eles não são alcoólicos de fato.

O jornal local Aujourd’hui en France saiu pelas ruas de Paris e se impressionou com meninas e meninos pequenos, de até 9 anos, que, ao experimentar os doces, comentavam já conhecer o gosto de certos drinks, porque os provaram junto a familiares. Uma garota de 11 anos relatou até mesmo que, frequentemente, prepara mojitos com os pais – e sabe a receita de cor.

Para o presidente da associação SOS Adicção, William Lowenstein, em termos de saúde pública essa ideia de doces com sabor de bebida alcoólica “é uma besteira maluca”. Segundo ele, as lembranças da infância têm um papel importante na vida adulta e vai conduzir a criança a subestimar o risco do álcool quando crescer.

 

Fonte: Le Parisien