“A mosca que pousa no mel não pode voar”

Tempo de leitura: 2 minutos

O título deste artigo foi removido de uma frase de São João da Cruz, sacerdote e frade carmelita do século 16. Ele ensinou que “a mosca que pousa no mel não pode voar… assim, a alma que fica presa ao sabor do prazer, sente-se impedida em sua liberdade e contemplação”.

Ao fazer a esta analogia, o doutor místico da igreja não conhecia a mosca-da-fruta. Mas sabia ele que, cinco séculos depois, sua frase ganharia novo sentido…

Tephritidae (tefritídeos) é uma das duas famílias de mosca conhecida como “mosca-das-frutas”. A outra é Drosophilidae. Há cerca de 5000 espécies de Tefritídeos descritas, classificados em quase 500 gêneros. A taxonomia dessa família ainda não está bem resolvida, com novas descrições, reclassificações e análises genéticas modificando as relações entre os grupos frequentemente.

Na agricultura, as moscas-da-fruta dessa família são de grande importância econômica. Algumas possuem efeito negativo, porque causam danos à fruticultura e outras culturas.

Curiosamente, a espécie possui um dos maiores espermatozoides do mundo, com 5,8 cm, 23 vezes maior que a mosca, que possui 3 mm. Isso talvez explique porque as moscas-da-fruta masculinas gostam mais de orgasmos do que de álcool.

Essa curiosidade moveu cientistas israelenses da Universidade Bar-Ilan, localizada perto de Tel Aviv. Eles estudaram o vício dos insetos no prazer e esperam usar sua descoberta para controlar a dependência química de humanos.

Os pesquisadores, liderados pelo especialista Galit Shohat-Ophir, expuseram as moscas a uma luz vermelha que ativa a proteína corazonina (CRZ) no abdômen, que por sua vez desencadeia a ejaculação. Depois, eles analisaram como ejaculações repetidas afetaram o desejo das moscas por outros prazeres, como líquidos com álcool.

As moscas que tiveram orgasmos evitaram o álcool, ao contrário de um grupo de controle que não foi estimulado, preferindo se reunir no “bairro da luz vermelha” porque “é gostoso” ali, explicou Shir Zer Krispil, que conduziu o estudo.

Na pesquisa, publicada no periódico científico “Current Biology”, os cientistas deduziram que a dependência química em humanos pode ser moderada por outras recompensas – não necessariamente de natureza sexual que, como sabemos, também pode viciar – que estão disponíveis naturalmente, como interações sociais ou esportivas.

 

Fonte: G1