Drogas, um caso de… economia?

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Em 2010 Tom Wainwright chegou ao México como correspondente da revista The Economist, e logo percebeu que a luta contra as drogas deveria ser mais responsabilidade de economistas do que de generais.

Recentemente ele publicou Narconomics, um livro crítico à atual “guerra contra as drogas” que analisa os cartéis do narcotráfico como grandes empresas. A ideia de escrever o livro nasceu quando o autor avaliou o valor de um carregamento de 100 toneladas de maconha: as autoridades mexicanas sustentavam que valia 500 milhões de dólares (1,8 bilhão de reais), quando na realidade seu valor era de “apenas” 10 milhões de dólares (37 milhões de reais).

O primeiro número foi calculado de acordo com o preço de venda da maconha nos Estados Unidos. “Vi que se tratava de um erro, é como calcular o valor de um quilo de café na Colômbia utilizando os preços de venda de um Starbucks em Nova York”, explicou o autor. “Portanto comecei a me perguntar o que mais se estava fazendo de errado ao não aplicar os elementos econômicos mais básicos à guerra contra as drogas”, acrescentou o jornalista, que agora está morando novamente na Grã-Bretanha.

Narconomics oferece uma visão surpreendente, ao analisar como os cartéis da droga empregam estratégias empresariais inovadoras como, por exemplo, recorrer a um modelo similar ao das franquias. Assim como em qualquer empresa, as organizações criminosas lamentam a falta de mão de obra, e o pequeno traficante de rua tradicional também se ressente com o surgimento do comércio on-line e da venda de drogas na deep web.

A principal tese de Wainwright é que a chamada “guerra contra as drogas” não funciona porque parte de uma ideia equivocada: de que a redução da oferta aumenta os preços e, portanto, diminuiria o consumo. Desde 1998 “o número de consumidores de maconha e cocaína cresceu 50%, e o de opiáceos quase triplicou”, argumentou sobre o fracasso desta estratégia. “Até agora a guerra contra as drogas esteve muito centrada no lado da oferta: a eliminação de arbustos de coca nos Andes, a luta contra os cartéis no México, prender traficantes de drogas nas ruas de Washington, Londres ou Madri”, analisou.

Se por um lado a demanda por drogas ilegais não responde tanto às variações de preço, por outro, apesar das grandes altas do preço na origem, o impacto no valor da droga para o consumidor final é mínimo. “Para fazer um quilo de cocaína são necessárias folhas de coca que na Colômbia que valem 500 dólares (1.800 reais). Nos EUA um quilo de cocaína vale 150.000 dólares (555.000 reais). Portanto, mesmo que o valor da folha de coca dobrasse, o valor da cocaína praticamente não aumentaria”, avaliou Wainwright.

Ele também afirma que, segundo alguns estudos, “para cada 1 milhão de dólares (3,7 milhões de reais) gasto para combater a oferta na América do Sul, a quantidade de cocaína consumida nos EUA cai dez quilos”. No entanto, “para cada milhão que os EUA gastaram em educar as crianças a não usar drogas, o consumo diminuiu 20 quilos; e para cada milhão gastos no tratamento de dependente químico, o consumo cai 100 quilos”, explicou.

O analista disse entender a frustração existente na América Latina pelos “desastrosos” resultados da política “proibicionista”, e considerou que se o problema fosse visto como um mercado a conter e não como uma batalha a lutar, os resultados seriam melhores. “A maior parte dos analistas de drogas são especialistas militares ou criminalistas. Acredito que seria melhor que alguns poucos economistas se envolvessem”, afirmou.

O autor também se mostrou muito crítico com a banalização do consumo de drogas, sem reparar no custo humano que há por trás dele. “É uma incômoda certeza, não uma possibilidade, mas uma certeza, que comprar um grama de cocaína na Europa ajuda a pagar para alguém ser torturado até a morte do outro lado do Atlântico”, advertiu.

 

Fonte: Revista Veja via Agência EFE