Caiu na rede, é crack

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Mar Sem Fim é uma série de documentários produzida pelo jornalista João Lara Mesquita, membro fundador (e conselheiro) do Núcleo União Pró- Tietê, ligado à Fundação SOS Mata Atlântica; ONG que desde 1990 comanda a campanha pela despoluição do rio Tietê.

Uma das coisas perturbantes durante a gravação da última temporada, onde cobria as Unidades de Conservação federais do bioma marinho da costa brasileira, foi perceber o crack presente nas comunidades pesqueiras. Mesmo as menores e mais ermas, estão nas mãos do tráfico.

A droga entra pelas ‘Fronteiras Molhadas’ (expressão utilizada pela Polícia Federal para designar o litoral brasileiro). São apenas 150 policiais para tomar conta de dezenas de grandes portos, centenas de pequenos; vigiar os cerca de 400 km da foz do Amazonas, o litoral das grandes metrópoles como Fortaleza, Salvador, ou Santa Catarina. Dezenas de aduanas, centenas de navios com milhares de contêineres, e mais, de acordo com Flávio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal.

Caso o Brasil tivesse uma bem aparelhada guarda costeira, a situação poderia ser outra. Entretanto, quem controla o espaço é a Marinha do Brasil, mas só para questões de soberania e consequente ‘proteção’ de nossas riquezas – e que mal tem combustível suficiente para manter a sofrível frota.

Como os Cartéis sabem dos míseros 150 agentes pra ‘fronteira molhada’, aproveitam o descaso e transformam viagens, antes de lazer, em meio para traficar: o que não fica pelo litoral em forma de pasta, é transportado via barcos de passeio.

De Tracuateua, litoral do Pará, até Nanã, distante 21 quilômetros, por exemplo, existem oito pontos de venda de crack.

Para os nativos, a vida é dura. Com a chegada recente da rede elétrica, saltaram do lampião para redes sociais aumentando o contraste que opõe as famílias extrativistas. Filhos evitam a profissão do pai, querem dinheiro pro tênis da moda. Com o conflito, fica fácil a entrada das drogas. Assim acontece em todo litoral do Brasil, exceção aos estados mais ricos, e as praias por eles frequentadas. Nestas, o pó puro sem enrolação da mistura, é oferta certa. Os nativos, porém, não tem como lidar com o flagelo das drogas.

Diagnosticado com câncer, João Lara Mesquita acredita que tudo isso é reflexo do abandono de nosso litoral, porque o poder público não leva a sério a biodiversidade marinha. “O reflexo são presidenciáveis que ainda não soletraram uma letra sobre o que fazer com o último refúgio de vida silvestre, repleto de minerais raros, caros e necessários”, escreve ele. E faz uma reflexão: “Imagine a quantidade de contrabando que entra pelas ‘fronteiras molhadas’. Imagine o que o montante corresponderia em impostos, arrecadação, cofres públicos, menos corrupção; e veja que o investimento, seja em mais homens, seja numa guarda costeira, em pouco tempo se paga. A extraordinária riqueza da vida marinha, e mineral, estaria garantida; a desgarrada terra sem lei, incorporada de fato”.

 

Fonte: Mar sem Fim – site oficial