Codependência: uma tentativa frustrada de controle

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Codependência é uma dependência paradoxal. Embora os codependentes pareçam objetos da dependência, eles é que são dependentes. Parecem fortes, mas se sentem indefesos. Parecem controladores, mas na realidade são controlados pelos vícios e comportamentos de outras pessoas.

Inicialmente, acreditava-se que as raízes da codependência estavam relacionadas às experiências de abuso da infância e à maneira como fomos afetados pela convivência com pessoas viciadas em álcool ou com outras desordens compulsivas.

A convivência com alguém doente e fora de controle por causa da dependência química parecia determinar os sentimentos (vergonha, medo, raiva, dor) e comportamentos dos outros membros da família. O adicto tornava-se o foco principal da família, mobilizando os demais para assumir seus cuidados de maneira compulsiva. Na verdade, codependentes e dependentes químicos apresentam condições físicas e emocionais similares – um é usuário de drogas, o outro, em relacionamentos obsessivos.

Porém em alguns casos, observou-se que, quando os alcoólatras ficam “curados”, o comportamento codependente da família permanece e às vezes até se intensifica. Então, passou-se a suspeitar que as causas ocultas dessa doença antecedessem o alcoolismo, e que outros fatores poderiam produzir um codependente.

Sem dúvida, ter um educador negligente e abusivo e um ambiente familiar contaminado por vícios e desordens compulsivas são fatores intimamente relacionados ao surgimento da codependência em outros membros da família, mas definitivamente não são os únicos capazes de deflagrar a doença.

Embora cada codependente apresente uma experiência única originada de sua convivência familiar e de sua personalidade, um ponto comum aparece em todas as histórias de codependência – a influência dos outros sobre o comportamento do codependente e a maneira como o codependente tenta influenciar os outros (sejam alcoólatras, sejam viciados em jogos ou compulsivos sexuais, sejam indivíduos com reações excessivamente emocionais ou indivíduos sem autonomia financeira).

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV, publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, a característica primordial da dependência de substâncias (álcool e/ou droga) corresponde à presença de um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Mas, considerando que a droga, no caso da dependência, passa a exercer um papel central na vida do indivíduo, preenchendo lacunas na esfera psíquica e social, é preciso considerar que além dos sintomas físicos e mentais, existe a questão social. Desse modo, na atualidade, é preciso discutir a dependência química dentro de um modelo biopsicossocial. Assim, o tratamento do dependente químico deve abranger além do indivíduo, as diversas áreas de sua vida e, segundo a proposta deste trabalho, inclusive sua família, o que remete a questão da codependência.

Assim, considerando a codependência, isso sem perder de vista o grande poder de destruição da dependência química, ou seja, do sofrimento psíquico que produz no usuário, é imprescindível conhecer os mais diversos aspectos que interferem na vida dos familiares do dependente para que se possa prestar uma assistência psicossocial mais efetiva e completa aos indivíduos que estão em volta do dependente químico. O codependente pode ser qualquer individuo que esteja em contato direto com o dependente químico, a saber: familiares, amigos, vizinhos, cuidadores, conselheiro, especialista em dependência química, psicólogo, psicoterapeuta, terapeuta familiar, assistente social, educador, etc.

Para que as pessoas aprendam a lidar com esta situação, a jornalista e escritora Romina Miranda idealizou um curso de Capacitação em Aconselhamento e Intervenções Familiares em Dependência Química.

Pós-graduanda em terapia familiar e em dependência química pela Unifesp; pesquisadora da UNIAD/Unifesp na área de família de dependentes, editora-chefe da revista Anônimos e coordenadora do Programa Recomeço Família, do Governo do Estado de São Paulo, Romina Miranda, que já teve uma entrevista sobre codependência publicada aqui no “Para entender…”, coordena este curso programado para junho, com a participação especial de Padre Haroldo Rahm, Paulo Campos Dias, Doralice Otaviano, Nadja Vilela e Gilmar Manoel de Barros.

Confira maiores detalhes do curso clicando aqui.

 

Fontes: Site oficial do evento e Revista Psique