Novembro Azul: o câncer de próstata e o consumo de álcool

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São amplamente divulgados os malefícios e a relação do consumo do álcool e do tabaco com o desenvolvimento do câncer. Porém, pouco se fala sobre quais os impactos da dependência de drogas ilícitas em relação a essa doença.

Cada droga afeta o corpo humano de uma maneira diferente. A ação de cada uma delas vai depender de uma série de variáveis. O que todas elas têm em comum é o fato de causarem dependência; ou seja, todas agem em uma determinada região do cérebro, liberando dopamina e gerando prazer, o que faz com que alguns indivíduos não tenham controle e busquem sempre mais aquela substância.

A relação das drogas com o câncer depende do tipo utilizado.

A cocaína inalada aumenta o risco dos tumores de cabeça e pescoço, com destaque para as lesões de nasofaringe. Além disso, afeta a traqueia e os pulmões, já que o pó e, principalmente, as impurezas que vêm com ele, se acumulam nos alvéolos e geram inflamação local. O mesmo se observa com o crack, mas que, por ser fumado, costuma gerar mais lesões de orofaringe. A maconha tem influência no desenvolvimento de tumores das vias aéreas, muito semelhante ao cigarro.

Sexto tipo de câncer mais comum no mundo (10% de todos os casos) e o mais prevalente em homens, o câncer de próstata pode ser influenciado pelo consumo de álcool por diversos mecanismos: além de o próprio álcool ser cancerígeno, também afeta o metabolismo de outras substâncias cancerígenas, inibe o processo de reparação do DNA, aumenta o estresse oxidativo e, assim, pode aumentar a probabilidade de efeitos deletérios no DNA – efeitos que podem levar ao desenvolvimento de câncer. Apesar de alguns estudos estimarem um aumento de aproximadamente 20% no risco de câncer de próstata em bebedores pesados (considerado nesses estudos como o consumo de 25 g de álcool por dia ou mais), os efeitos do álcool sobre o câncer de próstata ainda não estão bem estabelecidos.

Em um estudo recente realizado nos Estados Unidos, foram avaliadas as possíveis associações entre o consumo de álcool (tipo de bebida alcoólica e padrão de consumo) e o risco de desenvolver câncer de próstata. Também se verificou um possível efeito do consumo de álcool sobre a ação da finasterida (um medicamento utilizado na prevenção do câncer de próstata), pois ambos afetam o metabolismo da testosterona, hormônio importante no desenvolvimento e evolução deste tipo de câncer.

Em geral, o consumo leve/moderado (definido pelo estudo como o consumo de até 50 g de álcool/dia, o equivalente a aproximadamente 4 doses) não foi associado ao risco de câncer de próstata. Entretanto, beber pesado (50 g de álcool/dia ou mais) foi associado a um risco significativamente maior de câncer de próstata de alto grau de malignidade, tanto no grupo de controle como no tratado com finasterida – um aumento do risco em 17%.

Além disso, não foi observado um efeito preventivo entre os bebedores pesados tratados com finasterida; pelo contrário, houve aumento no risco de câncer de próstata, enquanto os bebedores leves/moderados se beneficiaram com o tratamento, com uma diminuição do risco. Especificamente para o câncer de próstata de alto grau de malignidade no grupo tratado com finasterida, os riscos aumentaram tanto em bebedores leves/moderados como pesados, mas o efeito foi maior neste último grupo.

Os autores deste estudo, que faz parte do Prostate Cancer Prevention Trial, sugerem que as associações do câncer de próstata com o consumo de álcool ainda precisam ser mais bem estabelecidas, assim como os possíveis mecanismos biológicos envolvidos. Mesmo assim, aconselham os médicos dar maior atenção aos padrões de consumo de álcool de seus pacientes, principalmente em relação ao tratamento preventivo do câncer de próstata com a finasterida.

 

Fonte: CISA – Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool