Música mais alta, bebida mais gostosa

Tempo de leitura: 2 minutos

Conforme já apresentamos neste artigo, existe uma relação do gênero musical conhecido como ‘sertanejo universitário’ com o consumo de álcool no Brasil. No texto, a psicóloga clínica Francismari Barbin, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que a música ajuda a construir a cultura da sociedade, o que facilita ao público associar a bebida alcoólica com diversão ou a cura de problemas.

Esta teoria ganhou força com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra. Segundo eles, o álcool fica mais docinho quando tem música alta tocando — e isso acaba fazendo com as pessoas bebam mais sem perceber.

Este é o primeiro estudo experimental a documentar como a música é capaz de alterar o gosto do álcool. 80 voluntários, homens e mulheres, participaram da pesquisa onde, basicamente, precisavam beber uma variedade de drinks e ir anotando num bloquinho se estavam fortes, docinhos, amargos, etc., enquanto os cientistas iam mudando o volume da música ambiente.

O líder da pesquisa, Lorenzo Stafford, afirma que os humanos “têm uma preferência inata pela doçura, isso oferece uma explicação plausível para o fato de as pessoas consumirem mais álcool em ambientes barulhentos”.

Se a relação música x bebida parece ser novidade no Brasil, nos Estados Unidos pesquisadores da Universidade de Pittsburgh realizaram um estudo em 2009 revelando que os adolescentes americanos estavam sendo expostos, de forma massiva, à referências a bebidas alcoólicas na música Pop em geral.

Os pesquisadores ouviram 793 das músicas mais populares entre adolescentes e descobriram que cerca de 25% das músicas que faziam referência a bebidas alcoólicas também faziam referência a alguma marca especifica. Isto equivale a ouvir 3,4 músicas com referências a marcas de bebidas por hora. Considerando-se que o adolescente médio ouve cerca de 2,5 horas de música diárias, a exposição anual que recebem a referências de marcas de bebidas é, portanto, bastante substancial.

Os efeitos subliminares que essas músicas causam são enormes. As conexões com o álcool foram mais positivas (41,5%) do que negativas (17,1%).

De lá para cá, outros 14 estudos de longo prazo descobriram que a exposição a comercialização de bebidas alcoólicas nos meios de comunicação aumenta a probabilidade de que os jovens começam a beber ou, se já bebem, aumentam o seu consumo.

Um deles, realizado pela Universidade de Boston, também nos EUA, determinou que a aparição elevada destas marcas na música popular pode ser baseada nos laços mais estreitos entre os fabricantes de álcool e da indústria da música. Um exemplo é a Seagram, que adquiriu as gravadoras Universal e Polygram, entre 1995 e 2001. Desde então, inúmeros artistas individuais, em particular do rap e da cena hip hop, criaram e promoveram suas linhas de bebidas.

Uma curiosidade: o Rock and Roll, estilo musical que sempre foi ligado ao consumo de álcool, não está nas primeiras posições em nenhuma das pesquisas – dos EUA ou daqui.

 

Fonte: Superinteressante