Uma combinação perigosa

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Já sabemos que deixar de ingerir bebidas alcoólicas durante quatro semanas traz benefícios mensuráveis para a saúde – após um mês sem álcool, os voluntários de um experimento tiveram uma redução da fibrose do fígado.

Maior glândula do organismo, com seus 8 a 10 centímetros de largura, o fígado é a parte do corpo que mais sofre com a bebida alcoólica. De pouco em pouco, o álcool leva o órgão a ficar inflamado e processar mal as gorduras – o que pode acabar na conhecida cirrose ou outras doenças hepáticas.

De acordo com estudos internacionais, adolescentes escolares revelam que 39,2% experimentaram álcool pela primeira vez em casa, com familiares, muitos entre 12 a 13 anos. Quanto à forma de beber, 90% do abuso de álcool por adolescentes acontecem de maneira intensa e única, ou seja, pela ingestão de cinco ou mais doses na mesma ocasião. Foi o que mostrou pesquisa realizada nos Estados Unidos. É importante ressaltar que o consumo antes dos 16 anos aumenta significativamente o risco de beber em excesso na idade adulta, em ambos os sexos.

Alguns adolescentes se voltam para as drogas e o álcool como uma forma de escapismo. Quando estão tristes ou deprimidos veem estas substâncias como forma de esquecer e se sentirem mais felizes.  O adolescente pode ver uma atitude mal-humorada como “apenas ser um adolescente”, mas pode haver uma depressão mais profunda.

E é aqui que entra uma pesquisa feita por cientistas da King’s College, em Londres.

Eles resolveram investigar a relação entre depressão e a ansiedade com as doenças hepáticas.

Além de tentar entender se havia uma relação entre psicológico e corpo, o objetivo principal do estudo era determinar se a existência de doenças mentais influenciaria os tratamentos dos jovens.

Do estudo, participaram 187 pessoas de uma clínica que cuida de pacientes com problemas no fígado. Os pacientes foram divididos em três grupos: os que haviam passado por um transplante de fígado, os que tinham uma doença hepática autoimune e aqueles com problemas crônicos no órgão.

Os jovens, com idades entre 16 e 25 anos, precisavam responder a um questionário online sobre saúde mental, segundo o qual é possível diagnosticar depressão e ansiedade. De acordo com o questionário, os pesquisadores descobriram que 17,7% dos pacientes tinham depressão ou ansiedade, número quase cinco vezes maior do que o comum para adolescentes — no geral, só 4% dos jovens nessa faixa etária desenvolvem depressão e ansiedade no Reino Unido.

Algo que chamou a atenção dos pesquisadores foi que nenhum dos participantes acreditava que a doença psicológica tinha a ver com a física. Para os adolescentes analisados, as causas da ansiedade ou da depressão era, para eles, cansaço, baixa autoestima, falta de sono, problemas financeiros ou dificuldades escolares.

É aqui que mora o perigo: desconhecendo as ligações entre doenças hepáticas, depressão e ansiedade, os médicos prescrevem remédios antidepressivos. E a combinação mais perigosa do álcool é, justamente, com calmantes e antidepressivos.

Isso porque beber pode neutralizar os benefícios da medicação antidepressiva, fazendo com que os sintomas fiquem mais difíceis de tratar. Além disso, o álcool pode parecer melhorar o humor no curto prazo, mas seu efeito global aumenta os sintomas de depressão e ansiedade.

Entretanto, os pesquisadores da King’s College notaram que as questões psicológicas, apesar de terem um forte impacto na vida de cada jovem, não pareciam influenciar negativamente o tratamento hepático deles, o que equivale dizer que a depressão e a ansiedade não dificultam a cura das doenças do fígado.

 

Fonte: Superinteressante