“A colheita é conforme a plantação, não tem jeito”

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Uma pesquisa da Universidade de Cambrigde comprovou a relação entre o consumo de álcool e o surgimento de tumores. Publicado no periódico científico Nature o estudo teve apoio financeiro do instituto Cancer Research, da Inglaterra.

Pesquisas anteriores, principalmente estudos populacionais que associavam a prevalência de câncer ao consumo alcoólico, já sugeriam que existe uma relação entre a bebida e o surgimento do câncer em mais de dez partes do corpo, inclusive os de intestino e mama, que são os mais comuns no Brasil.

Nesta nova pesquisa os cientistas conseguiram analisar como um derivado do álcool, o etanol ou acetaldeído, interfere permanentemente no DNA de células-tronco no metabolismo de ratos ao dar altas doses de álcool a cobaias. Eles perceberam que essa quebra estimula os cromossomos a se emparelharem aleatoriamente, mudando para sempre as sequências de DNA nas células. As células alteradas se multiplicam, se espalham pelo corpo e facilitam o surgimento de tumores.

O etanol é produzido quando o nosso corpo está reagindo ao álcool. Sua presença em nosso corpo é percebida através da ressaca – reação que levou os cientistas também prestarem atenção em como o corpo se defende do álcool.  Eles descobriram que uma enzima chamada aldeído desidrogenase (ALDH) é capaz de catalisar, quebrando o subproduto maléfico do álcool. Eles testaram os efeitos nos ratinhos alcoolizados com e sem ALDH e perceberam que os que não tinham a enzima tiveram seu DNA afetado até quatro vezes mais. Acontece que milhões de pessoas ao redor do mundo não possuem essa enzima.

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) elenca o consumo de bebidas alcoólicas como um dos principais fatores de risco para a doença. O número de mortes por câncer no Brasil aumentou 31% nos últimos 15 anos.

A mais recente vítima é o funkeiro Mr. Catra. O cantor está fazendo quimioterapia para tratar um câncer que ele descobriu no estômago há mais de um ano. Perguntado sobre os motivos que o levaram a desenvolver a doença, Catra culpou o álcool e até as noites sem dormir – algo que está interligado, pois o excesso na ingestão de bebidas alcoólicas estimula o sistema nervoso central e acaba por atrasar a vinda do sono. O álcool também favorece o relaxamento muscular e com isso os músculos da região da garganta e a língua sofrem um relaxamento excessivo, causando aumento no índice de ronco e apneia.

“A colheita é conforme a plantação, não tem jeito. Não foi Deus que deu essa enfermidade, a culpa é minha”, afirmou Catra sobre o câncer, doença que, de acordo com informações da OMS, matou 223,4 mil pessoas no Brasil em 2015, deixando no segundo lugar das causas de mortes no país, perdendo somente para as doenças cardiovasculares. No mundo, a estimativa é 8,8 milhões de vítimas por ano – o equivalente a população da cidade de Nova York ou de toda a Áustria.

 

Fonte: Estadão